sábado, 15 de março de 2014


INCLUSÃO DA PESSOA COM SURDEZ
                        Historicamente existe um grande enfrentamento entre a corrente gestualistas e a corrente oralista como a melhor maneira de letrar a pessoa com surdez, todavia devemos verificar que acima do déficit sensorial, existe um ser humano complexo e potencialmente integrado, que organiza e busca reconhecimento perante a sociedade como cidadão com direitos e obrigações como qualquer um. A legislação brasileira é uma das mais avançadas no que concerne a inclusão, porém é preciso verificar que durante todo o processo de implantação do sistema de ensino brasileiro, nunca a questão da inclusão foi levada tão em consideração como atualmente. A pratica pedagógica na perspectiva inclusiva é relativamente nova e a inclusão de pessoas com surdez mais ainda.  Não adianta uma legislação moderna se a pratica não condiz com a teoria.

                        É preciso que sejam legitimados os marcadores identitários das pessoas com surdez e seja levada em consideração toda uma cultura construída com muita luta, é preciso ultrapassar a dicotomização do pensamento das pessoas com e sem deficiência. O momento é de mudança de paradigma levando a um pensamento pós-moderno, onde o educando com surdez possa desenvolver-se de maneira plena e completa e não apenas na lei.

Isso nos faz pensar num sujeito com surdez não reduzido ao chamado mundo surdo, com identidade e a cultura surda, mas numa pessoa com potencial a ser estimulado e desenvolvido nos aspectos cognitivos, culturais, sociais e linguísticos, pois a concepção de pessoa com surdez descentrada se caracteriza pela diferença, que, sob a força de divisões e antagonismos, leva a pessoa descentrada a ser deslocada e a assumir diferentes posições e identidades, Hall (2006)

                        Partindo deste descentramento de identidade o educando com surdez é visto como um ser biopsicossocial, cognitivo, cultural para construção de sua subjetividade interferindo diretamente na maneira com ocorre a aquisição e produção do conhecimento. A pratica pedagógica deve ser voltada para o desenvolvimento das potencialidades das pessoas com surdez mudando o olhar segregacionista incluindo com praticas efetivamente inclusivas. Romper com o pensamento dicotômico entre oralistas e gestualistas. É preciso uma pratica bilíngue que coloque a pessoa com surdez no centro do debate, não como uma pessoa  sensorialmente com déficit, mas como uma pessoa, muito maior que seu déficit sensorial. O bilinguismo é fundamental, pois a pessoa com surdez não pode ser colocada a parte apenas porque desenvolveu um sistema de comunicação próprio, não podem ser considerados estrangeiros no seu próprio país. Afinal a LIBRAS é considerada a primeira língua da pessoa com surdez e o português a sua segunda língua. Alguns fatores interferem diretamente neste processo de inclusão tais como: pessoas capacitadas para atender esta demanda, ambientes estruturados para esta pratica.

 

Esse ser humano precisa ser trabalhado no espaço escolar como um ser que possui uma deficiência, e que essa deficiência provoca uma diferença e tais limitações devem ser reconhecidas e respeitadas, mas não podemos justificar o fracasso nessa questão, em virtude de cairmos na cilada da diferença , segundo (PIERUCCI, 1999)

 

ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO

                        É neste ambiente inclusivo amplo que surge a proposta do Atendimento Educacional Especializado – AEE para pessoas com surdez. Este atendimento deve organizar o trabalho complementar para a classe comum, objetivando a autonomia e independência social, afetiva, cognitiva e linguística da pessoa com surdez no ambiente escolar e nos demais ambientes sociais, promovendo a inserção do aluno nos conteúdos sistematizados através de duas línguas. A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) sua primeira língua e a língua Portuguesa sua segunda língua. Para tanto se faz necessário a elaboração de um plano de ação que leve em consideração suas habilidades e suas necessidades especificas para aluno com surdez, visando a quebra de barreiras que possam aparecer no percurso.

Segundo Damázio (2007), o AEE envolve três momentos didáticos pedagógicos:

1 - O Atendimento Educacional Especializado em Libras

                        O atendimento ocorre todos os dias no contra turno, na sala de aula comum no sistema bilíngue, pois respeita a estrutura tanto da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) quanto da língua portuguesa. São utilizadas muitas imagens e todo tipo de referência que venha a colaborar para a aprendizagem dos conteúdos curriculares. O AEE fornece a base conceitual da língua de LIBRAS e do conteúdo estudado em sala comum. Há explicação das ideias essenciais. O AEE em LIBRAS oferece ao aluno com surdez segurança e motivação para aprender, registra o desenvolvimento de cada aluno e sua relação com os conceitos estudados. O AEE com o uso de LIBRAS ensina, enriquece os conteúdos curriculares promovendo a aprendizagem dos alunos com surdez.

2 - Atendimento Educacional Especializado de Libras

                        O atendimento ocorre diariamente no contra turno da sala comum, favorece o conhecimento e aquisição principalmente de termos científicos. O atendimento é iniciado com o diagnóstico do aluno. Seu planejamento é baseado no conhecimento que o aluno já tenha da LIBRAS, é respeitado as especificidades da língua brasileira de sinais, principalmente o estudo dos termos científicos a serem introduzidos pelo conteúdo curricular. Caso não existam sinais para designar determinados termos científicos do contexto busca a ajuda dos educadores das áreas especificas. Analisam a criação dos termos científicos, levando em consideração a estrutura linguística da mesma. Os termos científicos em sinais são registrados para serem utilizados nas aulas. O professor ou instrutor deve ser preferencialmente surdo legitimando dessa forma o aprendizado. É confeccionado um caderno de registro de língua de sinais.

3 - Atendimento Educacional de Língua Portuguesa

                        O trabalho acontece todos os dias a parte das aulas da turma comum. São trabalhadas as especificidades da língua portuguesas para alunos com surdez, objetivando alcançar estruturas gramaticalmente corretas que para os alunos ouvintes parece fácil. É necessário criar estratégias pedagógicas específicas para este fim. Por isso é muito importante que este trabalho inicie nos primeiros anos de escolarização da pessoa com surdez. A avaliação da língua portuguesa deve ocorrer processualmente para garantir os avanços e os ajustes caso seja necessário. O planejamento é preparado em conjunto com o professor de LIBRAS e da sala comum, para este trabalho é importante que o professor tenha formação na área de letras (língua portuguesa). O professor trabalha os sentidos das palavras de forma contextualizada, respeitando e explorando a estrutura gramatical de língua portuguesa. É um canal de comunicação especifico em leitura e escrita das palavras, frases e textos, o uso de imagens e até mesmo a dramatização como estratégia para representar os conceitos abstratos. O aluno com surdez precisa apropriar-se em sues textos das regras gramaticais da língua portuguesa, ampliando seu vocabulário.

                        Com estes três momentos de aprendizagem ancorados num planejamento didático pedagógico inclusivo, o aluno com surdez consegue quebrar muitas das barreiras linguísticas impostas pela sociedade, deixando em evidência todo o potencial intelectopsicosocial.

Referência:

DAMÁZIO, Mirlene F. M. Atendimento Educacional Especializado: Pessoa com surdez. Curitiba: CROMOS, 2007. p. 25-52.

DAMÁZIO, Mirlene F. M., ALVES, Carla B. e FERREIRA, Josimário de P. Educação Escolar de Pessoas com Surdez In AEE: Fascículo 04: Abordagem Bilíngue na Escolarização de Pessoas com Surdez. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2010