sábado, 20 de outubro de 2012


Projeto “Minhas Histórias Preferidas

Imagine uma turma que lia e escrevia, porém não conseguiam criar, construir textos, deixar a imaginação ir mais longe. Essa era a relidade do 1° ano do 2° ciclo da Escola Municipal Professor Marcolino Botelho, composta por alunos na faixa etária entre 9 e 10 anos, todos da comunidade de Salgadinho e proximidades. Pensando nesta situação foi elaborado o projeto Minhas Histórias Preferidas, com o objetivo de estimular a produção textual e potencializar o poder imaginativo dos educandos, transpondo para o papel estas histórias de maneira coesa e coerente no período de maio a novembro de 2010.

O projeto foi iniciado com a escolha dos gêneros textuais a serem explorados. De forma democrática todos opinaram, sendo escolhido o conto tradicional, a fábula, poesia, o memorial, as histórias encantadas e crônicas. No início das oficinas, os alunos eram estimulados a narrar oralmente acontecimentos do seu dia-a-dia, mostrando que histórias são construídas a partir de observações que fazemos do cotidiano e que para tudo existe uma finalidade que necessita de algumas regras para serem construídas. Neste momento, observamos um maior interesse dos alunos pela produção e o cuidado para produzir textos. Na sequência, combinamos de realizar dois momentos para desenvolver o projeto, um para trabalharmos a parte teórica dos gêneros textuais (características, história, particularidades, entre outros aspectos). O segundo momento foi voltado para a produção textual dos alunos e análise dos mesmos, à medida que o projeto avançava, percebíamos o interesse e cuidado em cada produção, pois agora, existia a possibilidade de criação de suas próprias histórias.

Na análise dos gêneros textuais, os alunos questionavam sobre diversos aspectos dos tipos de texto trabalhados. Perguntas como “Tio, tudo que é colocado nas histórias pode acontecer?” foram feitas. Um fato interessante aconteceu quando estávamos analisando o conto Chapeuzinho Vermelho. Uma aluna fez uma observação muito pertinente. Ela questionou: “Se a mãe de Chapeuzinho Vermelho sabia que a avó da menina estava doente, por que não a trouxe para sua casa e tomou conta dela?” Outro aluno indagou: “Tio, mesmo sabendo que existia a possibilidade de haver um lobo na floresta, ela mandou Chapeuzinho entregar sozinha os doces”. Com estes questionamentos, percebemos que o trabalho estava surtindo o efeito desejado, pois os alunos não saíram da postura passiva de meros ouvintes e entraram num novo patamar de leitores ativos no processo de criação, conseguindo ler as entrelinhas, o sentido subjetivo das produções literárias.

Os encontros continuaram acontecendo e a cada gênero estudado, era possível ver um maior entrosamento da turma. Eles passaram a fazer pesquisas tanto individuais quanto em grupo. A turma que antes era anciosa e agitada ficou mais tranquila e centrada no objetivo de produzir os melhores textos. O mais interessante é que durante este processo criativo foram detectados os reais motivos da dificuldade na criação textual.

 Não havia estímulo para tanto. Era mais fácil reproduzir, pois se alguma coisa desse errado na produção, não seria culpa dos mesmos já que eles estavam apenas copiando. A partir do momento que foram retirados os entraves por meio de exposições dialogadas, oficinas literárias, vídeos de autores nacionais e regionais, leitura dramatizada, análise de discurso e exercícios práticos de criação. Os alunos permitiram que, em um grupo operativo, pudessemos trabalhar temas transversais como drogas, etnia, sexualidade, violência, cidadania dentre outros. Isto fez com que os alunos percebessem com outros olhos o processo de criação literária e todos os seus pormenores. Durante o desenvolvimento do projeto, os alunos começaram a dar sugestões, tais como regionalizar alguns textos como Chapeuzinho Vermelho que ao invés de levar doces tradicionais, levava bolo-de-rolo e Souza Leão. O lobo passou a ser um caranguejo, e o caçador, um caboclo de lança, aproximando desta forma uma história universal para o seu cotidiano, com elementos da sua realidade. Isto proporcionou uma veracidade muito grande nas produções.

Outro fator bastante interessante foi o envolvimento das famílias no projeto, que passaram a estimular os filhos em suas produções, trazendo fatos e acontecimentos para que fossem debatidos em sala e, dentro do possível, incluído nos textos dos alunos. Outro acontecimento que marcou muito foi o fato de três pais que haviam parado de estudar voltarem às bancas escolares com o incentivo dos filhos escritores. O projeto finalizou com uma grande festa, marcada pela confecção de um livro com a produção de todos os alunos envolvidos. Eles tiveram que escolher um texto que acharam mais marcante para compor o livro Minhas histórias preferidas. Fizemos uma manhã de autógrafos com a participação das famílias. Foi interessante perceber que todas as famílias prestigiaram o lançamento do livro, mesmo que apenas na escola. Foram escolhidos alguns textos para leitura dramatizada, e os alunos assinaram todos os livros. Pudemos observar a alegria dos alunos e seus familiares com um produto final palpável, que eles poderiam guardar para o resto da vida. Uma mãe chegou muito satisfeita para dizer que havia mostrado o texto do filho para os vizinhos e que todos ficaram admirados, com a qualidade da sua produção.

Durante todo o projeto, o maior objetivo era que fazer com que os alunos pudessem perceber que todos nós somos criativos e que produzir textos faz parte do nosso dia-a-dia, quer seja por meio de um bilhete, carta, diário, dentre outros. O projeto apresentou uma proporção maior do que tínhamos imaginado. Os alunos e familiares envolveram-se cada vez mais com a proposta, e um fator que foi determinante para isso foi a possibilidade de escrever sobre eles mesmos, registrando fatos que aconteciam e não eram vistos como importantes. Quando você trata sua vida como única, tudo começa a fazer sentido e toma uma nova proporção, fazendo com que sua auto-imagem e autoestima aumentem de forma positiva. Isto proporciona uma mudança de vida não apenas para quem escreve, mas também para todos que o cercam. Termino este relato com um pensamento do poeta polonês Jacob Bronowski: “subitamente vemos que a obra do artista nos revela que captamos a nós próprios; e então compreendemos que toda a criação, todo o pensamento humano está contido em nós”. Este pensamento nos leva a refletir sobre a importância de estimular, cada vez mais, os alunos a criarem suas histórias, por meio do pensamento, da fantasia, do faz de conta, num processo de resgate do livre pensamento sem tantas regras. Um espaço onde cada um pode deixar sua marca registrada, sua digital literária, que é única e intransferível, criando um ciclo irreversível autores e atores independentes. Assim, formamos o tão sonhado cidadão crítico.

O SER CADA VEZ MAIS VISÍVEL E EFICIENTE


O SER CADA VEZ MAIS VISÍVEL E EFICIENTE

 O ser humano em seu processo histórico sempre buscou melhorias para  sua qualidade de vida, contudo o mesmo não ocorria com as pessoas com NEE, que muitas vezes ficavam fora dessas descobertas porque tinham necessidades mais especificas, contudo isto vem mudando com o ingresso cada vez maior dessas pessoas no mercado de trabalho, nos ambientes escolas e nos diversos setores da sociedade.

No ambiente escolar não podia ser diferente, com uma legislação cada vez mais abrangente as pessoas com NEE estão conquistando cada vez mais espaço e tornando-se visível e eficiente. Lógico que este processo não é fácil até porque nada em nosso país é, as unidades educacionais e as redes de ensino precisam preparar-se melhor para esta nova demanda tão específica. Minha preocupação é, até que ponto esta inclusão realmente ocorre e como este processo está sendo construído. Todos os segmentos participam, afinal é imprescindível que os maiores interessados se coloquem para legitimar todo o processo. Uma coisa é certa hoje estamos trilhando um caminho melhor que a 10 anos atrás, onde esta discursão ficava restrita a poucos ambientes. Trabalho com crianças, adolescente e adultos com NEE e nas escolas que atuo vejo a preocupação de todos para que este processo de visibilidade e eficiente concretize-se. A estrutura é deficiente, mas os ajustes estão sendo realizados.