INCLUSÃO DA PESSOA
COM SURDEZ
Historicamente existe um grande enfrentamento entre a corrente
gestualistas e a corrente oralista como a melhor maneira de letrar a pessoa com
surdez, todavia devemos verificar que acima do déficit sensorial, existe um ser
humano complexo e potencialmente integrado, que organiza e busca reconhecimento
perante a sociedade como cidadão com direitos e obrigações como qualquer um. A
legislação brasileira é uma das mais avançadas no que concerne a inclusão,
porém é preciso verificar que durante todo o processo de implantação do sistema
de ensino brasileiro, nunca a questão da inclusão foi levada tão em
consideração como atualmente. A pratica pedagógica na perspectiva inclusiva é
relativamente nova e a inclusão de pessoas com surdez mais ainda. Não adianta uma legislação moderna se a
pratica não condiz com a teoria.
É preciso que sejam legitimados os marcadores
identitários das pessoas com surdez e seja levada em consideração toda uma
cultura construída com muita luta, é preciso ultrapassar a dicotomização do
pensamento das pessoas com e sem deficiência. O momento é de mudança de
paradigma levando a um pensamento pós-moderno, onde o educando com surdez possa
desenvolver-se de maneira plena e completa e não apenas na lei.
Isso
nos faz pensar num sujeito com surdez não reduzido ao chamado mundo surdo, com
identidade e a cultura surda, mas numa pessoa com potencial a ser estimulado e
desenvolvido nos aspectos cognitivos, culturais, sociais e linguísticos, pois a
concepção de pessoa com surdez descentrada se caracteriza pela diferença, que,
sob a força de divisões e antagonismos, leva a pessoa descentrada a ser
deslocada e a assumir diferentes posições e identidades, Hall (2006)
Partindo deste descentramento de identidade o educando com
surdez é visto como um ser biopsicossocial, cognitivo, cultural para construção
de sua subjetividade interferindo diretamente na maneira com ocorre a aquisição
e produção do conhecimento. A pratica pedagógica deve ser voltada para o
desenvolvimento das potencialidades das pessoas com surdez mudando o olhar
segregacionista incluindo com praticas efetivamente inclusivas. Romper com o
pensamento dicotômico entre oralistas e gestualistas. É preciso uma pratica
bilíngue que coloque a pessoa com surdez no centro do debate, não como uma
pessoa sensorialmente com déficit, mas
como uma pessoa, muito maior que seu déficit sensorial. O bilinguismo é
fundamental, pois a pessoa com surdez não pode ser colocada a parte apenas porque
desenvolveu um sistema de comunicação próprio, não podem ser considerados
estrangeiros no seu próprio país. Afinal a LIBRAS é considerada a primeira
língua da pessoa com surdez e o português a sua segunda língua. Alguns fatores
interferem diretamente neste processo de inclusão tais como: pessoas
capacitadas para atender esta demanda, ambientes estruturados para esta
pratica.
Esse
ser humano precisa ser trabalhado no espaço escolar como um ser que possui uma
deficiência, e que essa deficiência provoca uma diferença e tais limitações
devem ser reconhecidas e respeitadas, mas não podemos justificar o fracasso
nessa questão, em virtude de cairmos na cilada da diferença , segundo
(PIERUCCI, 1999)
ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO
É neste ambiente inclusivo amplo que surge a proposta do Atendimento
Educacional Especializado – AEE para pessoas com surdez. Este atendimento deve
organizar o trabalho complementar para a classe comum, objetivando a autonomia
e independência social, afetiva, cognitiva e linguística da pessoa com surdez
no ambiente escolar e nos demais ambientes sociais, promovendo a inserção do
aluno nos conteúdos sistematizados através de duas línguas. A Língua Brasileira
de Sinais (LIBRAS) sua primeira língua e a língua Portuguesa sua segunda
língua. Para tanto se faz necessário a elaboração de um plano de ação que leve
em consideração suas habilidades e suas necessidades especificas para aluno com
surdez, visando a quebra de barreiras que possam aparecer no percurso.
Segundo
Damázio (2007), o AEE envolve três momentos didáticos pedagógicos:
1 -
O Atendimento Educacional Especializado em Libras
O atendimento ocorre todos os dias no contra turno, na sala de
aula comum no sistema bilíngue, pois respeita a estrutura tanto da Língua
Brasileira de Sinais (LIBRAS) quanto da língua portuguesa. São utilizadas
muitas imagens e todo tipo de referência que venha a colaborar para a
aprendizagem dos conteúdos curriculares. O AEE fornece a base conceitual da
língua de LIBRAS e do conteúdo estudado em sala comum. Há explicação das ideias
essenciais. O AEE em LIBRAS oferece ao aluno com surdez segurança e motivação
para aprender, registra o desenvolvimento de cada aluno e sua relação com os
conceitos estudados. O AEE com o uso de LIBRAS ensina, enriquece os conteúdos
curriculares promovendo a aprendizagem dos alunos com surdez.
2 -
Atendimento Educacional Especializado de Libras
O atendimento ocorre diariamente no contra turno da sala comum,
favorece o conhecimento e aquisição principalmente de termos científicos. O
atendimento é iniciado com o diagnóstico do aluno. Seu planejamento é baseado
no conhecimento que o aluno já tenha da LIBRAS, é respeitado as especificidades
da língua brasileira de sinais, principalmente o estudo dos termos científicos
a serem introduzidos pelo conteúdo curricular. Caso não existam sinais para
designar determinados termos científicos do contexto busca a ajuda dos
educadores das áreas especificas. Analisam a criação dos termos científicos,
levando em consideração a estrutura linguística da mesma. Os termos científicos
em sinais são registrados para serem utilizados nas aulas. O professor ou
instrutor deve ser preferencialmente surdo legitimando dessa forma o
aprendizado. É confeccionado um caderno de registro de língua de sinais.
3 -
Atendimento Educacional de Língua Portuguesa
O trabalho acontece todos os dias a parte das aulas da turma
comum. São trabalhadas as especificidades da língua portuguesas para alunos com
surdez, objetivando alcançar estruturas gramaticalmente corretas que para os
alunos ouvintes parece fácil. É necessário criar estratégias pedagógicas
específicas para este fim. Por isso é muito importante que este trabalho inicie
nos primeiros anos de escolarização da pessoa com surdez. A avaliação da língua
portuguesa deve ocorrer processualmente para garantir os avanços e os ajustes
caso seja necessário. O planejamento é preparado em conjunto com o professor de
LIBRAS e da sala comum, para este trabalho é importante que o professor tenha
formação na área de letras (língua portuguesa). O professor trabalha os
sentidos das palavras de forma contextualizada, respeitando e explorando a
estrutura gramatical de língua portuguesa. É um canal de comunicação especifico
em leitura e escrita das palavras, frases e textos, o uso de imagens e até
mesmo a dramatização como estratégia para representar os conceitos abstratos. O
aluno com surdez precisa apropriar-se em sues textos das regras gramaticais da
língua portuguesa, ampliando seu vocabulário.
Com estes três momentos de aprendizagem ancorados num
planejamento didático pedagógico inclusivo, o aluno com surdez consegue quebrar
muitas das barreiras linguísticas impostas pela sociedade, deixando em
evidência todo o potencial intelectopsicosocial.
Referência:
DAMÁZIO,
Mirlene F. M. Atendimento Educacional Especializado: Pessoa com surdez.
Curitiba: CROMOS, 2007. p. 25-52.
DAMÁZIO,
Mirlene F. M., ALVES, Carla B. e FERREIRA, Josimário de P. Educação Escolar de
Pessoas com Surdez In AEE: Fascículo 04: Abordagem Bilíngue na Escolarização de
Pessoas com Surdez. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2010
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